A Globo vive um momento estratégico de ambição criativa. Com a assinatura de um acordo com Ron Leshem, cocriador da série Euphoria, a emissora brasileira coloca em curso o projeto Paranoia, que chega ao catálogo do Globoplay com pretensões de marca global e narrativa autoral de impacto.

“Paranoia” será uma série dramática com oito episódios, cada um com cerca de 45 minutos, e será ambientada no Rio de Janeiro contemporâneo. A produção surge como o primeiro trabalho de Leshem na América Latina, numa parceria que une sua produtora Crossing Oceans à Janeiro Studios, e ainda conta com a colaboração da roteirista brasileira Claudia Jouvin.

A proposta criativa apresenta uma fusão inspirada em referências de peso: o mundo psicológico de Cisne Negro, a intensidade emocional de Whiplash, a tensão estética e geracional de Euphoria, e até um toque de vertigem semelhante ao impacto narrativo de O Gambito da Rainha. Em sua gênese, “Paranoia” quer mergulhar nos dilemas da Geração Z brasileira, instalada entre tecnologia, identidade, crise mental e redes de poder que se revelam no cotidiano.

No cerne da trama estão temas urgentes e contemporâneos: deepfake, inteligência artificial, perda de privacidade, desafios de saúde mental em cenário pós-pandemia e ausência de preparo em educação financeira. Não se trata apenas de uma série juvenil, mas de um espelho crítico para jovens que se movem nas fronteiras permeáveis entre o real e o digital.

A partir dessa sinergia internacional-brasileira, o projeto busca equilibrar repertório ousado com sensibilidade local. Leshem e Jouvin compartilharão a supervisão criativa, mas o roteiro será enriquecido por novos talentos nacionais, para garantir que o idioma dramatúrgico seja autêntico e conectado com o perfil cultural brasileiro.

Para o Globoplay, “Paranoia” representa um passo decisivo no esforço de expansão e internacionalização do streaming nacional. É uma aposta para atrair assinantes exigentes, diferenciados e calejados em narrativas complexas. Para os idealizadores, é também uma forma de reposicionar o Brasil como parte do ecossistema global de produções autorais ousadas — e não apenas como palco de adaptações ou formatos importados.

Se o acerto criativo se confirmar, essa nova série pode inaugurar uma nova fase de exportação de talentos nacionais e narrativa com apelo para mercados externos. Os olhares já estarão voltados para o sucesso de “Paranoia” — como ela vai se concretizar em audiência, repercussão e impacto cultural será o grande teste.

Enquanto a pré-produção avança, uma expectativa já se forma: que essa fusão Brasil–internacional reverbere não apenas como um feito comercial, mas como um salto de maturidade narrativa para o audiovisual brasileiro — onde a originalidade local dialoga com o universo, e a voz jovem inspira um novo capítulo de criatividade.